Tuesday, May 15, 2007

Gatos Pardos


Sempre escutei que à noite todos os gatos são pardos. Pois é.

Há muito tempo passava em frente a um lugar. Ficava observando tudo que rolava por ali. Imaginava milhões de situações que poderiam rolar lá dentro. E de tanto passar por ali, um dia uma pessoa se aproximou e me convidou para entrar. Garantiu que poderia ficar tranquilo, que nada de ruim iria acontecer. Disse que no inicio todos sentimos um pouco de insegurança, mas que aos poucos certamente eu iria me sentir bem adaptado.

Pois, mesmo um pouco assustado, numa noite criei coragem e entrei. De cara me perguntaram meu nome para estampar na comanda que me acompanhava. Putz!!! Respirei fundo e continuei em passos forte e firmes para parecer dono do pedaço. Observando, fiquei andando durante horas. Não deixava ninguém se aproximar muito. E quando vi já era madruga e resolvi voltar pra casa.
Saciada a curiosidade do desconhecido, desejava conhecer outros lugares. Mas, curiosamente, me via sempre voltando para aquele lugar. Nunca mais vi a pessoa que me convidou pela primeira vez. E aos poucos eu já estava rindo, pulando, dançando, cantando, bebendo e chorando com total liberdade e segurança. Tinha feito amigos. Estava aconselhando e convidando novos e apavorados iniciantes a entrarem por aquela porta.

Muito engraçado. Da noite para o dia vamos dominando nossos medos e simplesmente nos sentimos seguros para continuar estimulando a criatividade. Pois foi bem assim que, exigindo mais da minha capacidade de relacionamentos, resolvi provocar de novo o desconhecido. Ele que se apresentava somente com um nome. Fomos fulminantes. As palavras viraram diálogos que viraram cartas que viraram mundos que se aproximavam. Apesar de existir uma grande intimidade, o desconhecido continuava misterioso. Me fez comentários inesquecíveis, me colocou imensas dúvidas, me questionou continuadamente, me provocou.

Nos encontrávamos de forma planejada, mas sempre inesperada. Na maioria das vezes não conseguia vê-lo com clareza. No meio daquelas luzes, daquela fumaça e daquele mundão de pessoas, apenas sentia a presença dele. Sentia sua respiração. Sentia algumas palavras. Sentia algumas provocações. Nada tão objetivo para concluir e nada tão ambiguo que fizesse desistir. Ficamos nessa condição durante algum tempo. Por algumas vezes ele sumia para fazer um charme, ou porque talvez fosse necessário. Apenas sei que durante meses pouco sabia dele, a não ser o fato de que poderia encontrá-lo ali.

Num dia tudo mudou. Fizemos um duelo e ambos cumprimos a promessa. A pessoa que inventou o Orkut pensava que a rede de relacionamentos tinha que aproximar as pessoas. Pois, foi exatamente esse orkut que nos distanciou. Ele diz que o preço das conquistas é a perda de alguma coisa, nesse caso o encanto que foi quebrado. Não sei se eu concordo. Mas percebo mudanças. Ele mudou a respiração. Ficou mais lento. Ficou mais quieto. Ficou ansioso. Ficou independente. Escondeu-se para mim. Até hoje não entendo porque ele quis acabar exatamente no ponto em que tudo poderia começar. Talvez porque os gatos tenham deixado de ser pardo.

4 comments:

Poison said...

Miauuuuuuuuuuu!!!!


Hehehe!!!!


Ótimo post!!! Parabéns!!!

Luiz Pep said...

Vaí no bloger do Poison e veja o ultimo post dele e vai no meu e veja meu ultimo, seriam variantes da mesma situação, estamos nas mesma "frigideira" por isso somos amigos de bloger, bj pra vc e força :)

FOXX said...

uau
puta q pariu (desculpa, mas expressa exatamente o q tow sentindo)
que texto da porra (idem)

aff

Râzi said...

Menino... caramba... esse se post foi intrigante... primeiro pensei que vc estava falando de um lugar mesmo... depois pensei que era uma metáfora sobre a aceitação da sua sexualidade... mas no final... vc terminou algum relacionamento agora????

Desculpa as dúvidas... menino esse texto mexeu comigo!

Beijão!